domingo, 9 de maio de 2010

Diversão e arte nas tardes da ‘brasileiríssima’

Por Emerson Rodrigues e Gustavo Matos


No ar há 22 anos, o Bazar Maravilha é um dos destaques da programação da rádio Inconfidência FM, a ‘brasileiríssima’. Apresentada por Tutti Maravilha, a atração divulga agenda de eventos culturais, toca muita música brasileira, exibe entrevistas com artistas e ainda conta com a fiel participação dos ouvintes. “A hora do recreio do rádio mineiro”, assim define o apresentador a proposta do programa, que vai ao ar de segunda a sexta, de 14h as 16h, na 100,9 FM.

Pouca gente sabe, mas na carteira de identidade, Tutti carrega o nome Ailton José Machado. Formado em jornalismo pela PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) em 1984, atuou como produtor musical antes de iniciar sua carreira nas rádios de Belo Horizonte. A primeira experiência foi na rádio Capital, em 1979 e, após uma passagem pela rádio 107 FM, Tutti foi convidado pelo então diretor artístico da Inconfidência FM, Claudinê Albertini, para comandar o Bazar Maravilha.

No ar há 22 anos, o Bazar Maravilha é um dos destaques da programação da rádio Inconfidência FM, a ‘brasileiríssima’. Apresentada por Tutti Maravilha, a atração divulga agenda de eventos culturais, toca muita música brasileira, exibe entrevistas com artistas e ainda conta com a fiel participação dos ouvintes. “A hora do recreio do rádio mineiro”, assim define o apresentador a proposta do programa, que vai ao ar de segunda a sexta, de 14h as 16h, na 100,9 FM.

Tutti Maravilha durante a realização do programa

Pouca gente sabe, mas na carteira de identidade, Tutti carrega o nome Ailton José Machado. Formado em jornalismo pela PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) em 1984, atuou como produtor musical antes de iniciar sua carreira nas rádios de Belo Horizonte. A primeira experiência foi na rádio Capital, em 1979 e, após uma passagem pela rádio 107 FM, Tutti foi convidado pelo então diretor artístico da Inconfidência FM, Claudinê Albertini, para comandar o Bazar Maravilha.

O repertório musical do programa firma mais uma vez o compromisso da rádio com o ouvinte em ser 100% brasileira, como atestam Pessoa e Siqueira (2007). A programação vai da nova geração de compositores, como Pedro Luiz e a parede, Otto, Céu e Maria Gadú, até artistas consagrados, dentre eles, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso e Milton Nascimento. A maioria dos ouvintes pertence às classes A, B e C, e contam sempre com a grande receptividade do locutor nas participações ao vivo.

Elis Regina é um bom exemplo de artista que, constantemente, recebe homenagens na programação. O quadro nomeado “A hora da comadre” reproduz duas músicas da cantora seguidas de comentários sobre curiosidades e peculiaridades de seu trabalho.

O programa geralmente possui oito blocos de 15 minutos cada e intervalos com tempo estabelecido. Já que se trata de emissora pública, não há anunciantes, mas sim empresas que apoiam a cultura em Minas. Esses incentivos são realizados na forma de fornecimento de ingressos de espetáculos teatrais, lançamentos de livros, cinema, CDS, DVDS e entradas de shows, variando conforme o apoiador.

Um dos quadros mais esperados é o da adivinhação. Uma charada é citada e um ouvinte liga para a radio tentando adivinhar a resposta. O prêmio é normalmente é um par de entradas para shows ou peças de teatro. Mesmo antes da internet e todos os seus canais de interatividade, o programa já se preocupava em manter essa relação próxima com o ouvinte.

O produtor Flávio Henrique Silveira em ação

Para comandar a hora do recreio do rádio mineiro, Tutti conta, nos bastidores, com o apoio do jornalista Flávio Henrique Silveira, 33, que ingressou na emissora em 2006. Depois de 6 anos na editoria de Esportes do Jornal O Tempo, Flávio fez o concurso da Rádio Inconfidência, por ser amante em música brasileira. Ele se considera realizado por trabalhar com Tutti. “O diferencial dele é a experiência. Ele tem 22 anos com o mesmo programa, entende muito de música brasileira e eu posso aprender, na prática, uma coisa com a qual eu pretendo trabalhar até o último dia da minha vida.”

Flávio destaca o jogo de cintura de Tutti, levando em consideração que o programa é ao vivo e, por isso, imprevistos e erros sempre ocorrem. O produtor chega três horas antes do programa iniciar. A pauta da semana é definida todas as segundas-feiras. Ele auxilia o apresentador e diretor Tutti, na programação musical dos especiais de sexta-feira, lê e separa os e-mails, seleciona e marca entrevistas. Flávio destaca que muitos artistas se oferecem, por meio de assessorias de imprensa, para serem entrevistados no Bazar Maravilha, cientes de que este é um excelente canal de comunicação e espaço para divulgação de suas músicas. Antes de trabalhar com Tutti, o jornalista já conhecia o programa, o estilo do apresentador e, segundo ele, isso facilitou a adaptação.

A jornalista Soraia Costa, 41, é uma das muitas ouvintes do Bazar Maravilha. Ela acompanha o programa há dez anos por conta, principalmente, do bom humor do apresentador, das dicas culturais, além da música de boa qualidade e da oportunidade de ouvir novos cantores e compositores na sessão “Tirando o selo”. “É um programa leve, divertido, gostoso de ouvir quando estou dirigindo”, disse a jornalista, que também declarou ser fã da cantora Elis Regina.


A semana

Segunda-feira é dia do ouvinte comandar a programação telefonando e pedindo música. A única exigência na hora de sugerir é o repertório, que precisa se manter dentro dos padrões de “música brasileira de qualidade”, segundo as próprias palavras do locutor. Para Maia (2006), “ao proporcionar diversão, o rádio quebra a rotina”.

A única ressalva é que às 15 horas entra a hora da cumadre com programação do próprio Tutti. Já às terças-feiras o programa é composto por três, sendo que duas delas pessoalmente e a terceira por telefone e tem a cultura como tema principal. As fontes principais normalmente são artistas plásticos, cantores e produtores culturais entrevistas. O quadro “Pergunta idiota” entra no ar todas as terças e quintas sempre com perguntas irônicas e respostas descontraídas e irreverentes.

Quarta-feira é o dia mais sério da programação, quando os ouvintes têm a oportunidade de se manifestar sobre temas mais sérios. Norteado pela pergunta para pensar, temas polêmicos sugeridos pelo apresentador como cidadania, cultura e vida social são merecedores de destaque.

A programação das quintas repete a programação das terças, com o mesmo conteúdo e formato, música, entrevistas, pergunta idiota, agenda cultural e sorteio de brindes. Sexta-feira é a “sexta maravilha”, com programação especial focada em um único tema ou artista, contando normalmente com a presença de vários convidados especias, e que ilustram o programa anunciando o fim de semana.


Entrevista com Tutti Maravilha



Repórter: Como foi o início da sua carreira?
Tutti: O rádio foi por acaso, graças ao futebol, eu caí no rádio porque o Reinaldo, o jogador, José Reinaldo de Lima, um dia chegou à minha casa, à época, eu estava desempregado porque havia “levado o cano” em uma produção, sumiram com o dinheiro e eu estava desiludido e disse que nunca mais iria “mexer” com produção e o Reinaldo me disse que havia arrumado emprego pra mim na rádio Capital. Aí foi “dada a largada”. Depois o pessoal da Brasileiríssima me convidou e aqui estou até hoje.

Repórter: Quando surgiu seu interesse pela cultura, música, shows, teatro e todas as outras manifestações artísticas?
Tutti:
Eu era ligadíssimo na música brasileira. Desde menino, eu gosto de música brasileira e aí, eu virei produtor e produzi Chico, Gal, Caetano, pessoal da época que estava saindo dos festivais e começando a carreira e Belo Horizonte tinha a fama de que ninguém vinha aqui aí, eu comecei a produzir esse povo, trazer esse povo sem lei de incentivo, sem patrocinador, sem nada. A gente arranjava descontos assim, em troca de um prato de comida, eu dava um convite para o dono de um restaurante e aí acabei produzindo até o final da década de 70 quando eu entrei no rádio. E o rádio é uma cachaça. Aí me apaixonei pelo rádio, me formei em jornalismo, achei que ia fazer jornais mas, o rádio ficou mais forte.

Repórter: Como surgiu a idéia do Bazar Maravilha?
Tutti:
O Claudinê Albertini, então diretor artístico da Rádio, me ligou e falou: “Tutti, eu quero você aqui fazendo um programa de duas horas, de tarde, que é um horário nobre pro rádio e tem que ser um programa bem ágil, bem bacana e eu queria que você formatasse, fizesse um piloto para a gente 'sacar' o que vai ser". E aí eu criei sessões. A única sessão fixa é a “Coisa de Comadre’, às 3 horas da tarde. As outras eu fui criando com o tempo. Apresentei para ele, não me lembro bem, umas cinco ou seis, ele aprovou, achou ótima a idéia e eu propus a ele o seguinte: "eu não quero que entre no meu programa política, de jeito nenhum, meu lance vai ser cultura e entretenimento". Política e religião, pula eu! Por favor, não me peça para fazer política nem religião porque eu não vou fazer. Ele topou, mostrou para ele o projetinho e não fizemos nem o piloto, entramos no ar, na lata, acabamos estreando e o programa ‘pegou”. Logo depois, na primeira pesquisa de audiência, nós assustamos. Chegamos à conclusão que estávamos fazendo um programa que, na época, ninguém fazia. Hoje, já existem cópias, mas antes, não existia isso na FM. Deu certo e estamos aí até hoje

Repórter: Quais foram os pontos altos da história do Bazar?
Tutti:
Muitos e tem uns que eu só descubro hoje. Na época, não sentia que era tão importante. Às vezes, me param na rua, e comentam comigo que um dia eu falei determinada coisa que mudou a vida daquela pessoa ou através do programa conheci uma minha namorada que hoje é minha esposa, um dia você lançou a uma tal banda, tal artista. Então isso eu só fico sabendo depois, na hora eu nunca senti que aquilo que eu estava fazendo era muito importante.

Repórter: Das várias entrevistas que você fez no Bazar, quais foram as mais marcantes?
Tutti:
Tem “milhões”, não vou lembrar, são tantas. Vou lembrar da mais recente. Hoje eu conversei com o João Cavalcanti do Casuarina, um grupo carioca de samba. O João é filho do Lenine. Foi um papo tão bom, o cara é tão ético, tão bacana, lembrando do pai dele, então, foi uma entrevista que eu gostei de ter feito. Eu nunca dei 10 para as minhas entrevistas. Eu tinha um produtor com quem eu brincava, o Cleiber Pacífico, a gente sempre brincava, ele é quem inventou essa onda: todo dia quando terminava o programa, eu escrevia, num papelzinho, a nota que eu tinha dado para o programa e ele escrevia também, às vezes coincidia, às vezes, não. A gente nunca deu 10. Eu tenho pavor de 10. Acho que 10 é o final da carreira. Eu prefiro ficar com a nota 8, hoje foi 7, hoje foi 9 e meio... Tem dia que é bacanérrimo, tem dia que é danado. Tem dia que você acaba é programa e fala: “não rolou”. Mas o programa é ao vivo, então...

Repórter: Ao longo do tempo, o que você mudou no Bazar?
Tutti:
Eu fui criando sessões. Como eu vi que foram entrando os DJs, eu abri uma sessão com música com DJ, que, às vezes eu uso. Às vezes, eu invento moda, crio uma sessão agora porque está na época disso. Na época do futebol, Copa do Mundo, eu criei o “Sala, Copa e Cozinha” onde eu falava do que tava rolando no futebol, colocava uma música falando sobre o futebol. São sazonais, umas sessões, às vezes existem por um certo período e depois acabam e outras eu experimento, elas dão certo e eu continuo tocando. Teve umas que já saíram. Eu tinha a sessão do vinil, eu tocava vinil mas, aí tiraram a pick-up. Eu perdi o pick-up e a sessão acabou. Mas, cada dia nasce uma nova.

Repórter: Como é ser uma pessoa inovadora? Como é a sensação de “nadar contra a corrente”?
Tutti:
É natural, é coisa de cultura ou de criação. Eu sempre fui o diferente. Fui expulso do colégio, fazia tudo errado, sempre gostei do diferente. Eu sempre tive amigos mais velhos, isso me ajudou muito. Eu sempre gostei de conversar com pessoas mais velhas porque eu aprendia muito. Se a coisa faz muito sucesso, eu tenho preguiça. Mas isso, é desde menino.

Repórter: Você considera que essa característica foi um desafio para você agradar ao público no início do Bazar?
Tutti:
Não porque deu certo. Quando eu propus para o Claudinê essa coisa toda, ele me disse: “você está nadando contra a maré”. Eu sempre fui contra a maré. Eu acho melhor porque você esta a favor da maré já tá tudo fácil, já existe aquilo. Já está pronto. Por que eu vou tocar aquela pessoa todo dia se ela já esta sendo muito tocada. Eu prefiro até tocar aquela pessoa mas, com o lado B dela.

Repórter: Fale um pouco do seu relacionamento com Elis Regina e Milton Nascimento.
Tutti:
Milton para mim é “Ele” e Elis é “Ela”. Os Beatles são “Eles”. Lancei o Minas, disco do Milton Nascimento. É um amigo “das antigas”. Ele abriu muitas portas para mim e para muitos artistas aqui. Ela (Elis) foi uma pessoa muito importante, uma pessoa muito querida, com quem tive o prazer de morar. Ela me orientou no meu gosto musical, me mostrou como era o mercado de música, de gravadores o que era feito, o que não era feito, o que era armado e o que não era armado. Tudo isso foi Ela (Elis).

Repórter: Como você define o rádio?
Tutti:
Minha vida é um rádio aberto. O rádio é tudo de bom. É um canal da maior importância para criar um comportamental, criar uma cultura, um gosto, por isso, que é perigoso essas rádios que só tocam músicas ruins e falam que o povo só gosta desse tipo de música. Eu sou contra isso, eu acho que todas as rádios tinham que ter um bom senso. Eu acho que acontece muito desacreditar do público. Eu luto pelo contrário, eu respeito o público, eu acredito que ele vai entender aquilo que eu estou falando e estou tocando. Por isso que eu toco a boa música e dá audiência. Qual a rádio em BH que coloca uma programação de duas horas, um dia da semana, feita pelos ouvintes? Nenhuma! A gente consegue fazer porque nosso ouvinte é qualificado. E a gente foi fazendo esse ouvido.

Repórter: Você tem comunidades no Orkut. Como é seu relacionamento com o público pela internet?
Tutti:
Zero, à esquerda. Não entro nisso. Quem fez as comunidades foram ouvintes. Entrei, por acaso, no Facebook porque uma amiga minha me obrigou a entrar e toda hora aparece alguém dizendo: quero ser se amigo. Eu não sei quem é a pessoa e se eu adicionar me sinto obrigar a prover essa pessoa de um papo, de uma história que eu não vou estar aí para fazer isso. Tenho intenção de fazer um blog para o programa, já falamos sobre isso, uma vez, vamos ver um dia, quem sabe...

Repórter: Então, seu contato com o público é pelo telefone, quando você aparece na noite, apresentando eventos, é assim que você mantém esse contato?
Tutti:
Eu prefiro a relação com o meu público pelo telefone e recebo o carinho das pessoas, na rua, quando as pessoas me param. Não gosto do Twitter, detesto pessoas me seguindo, tenho pavor, não gosto.


Referências bibliográficas

MAIA, Marta Regina. A comunidade radiouvinte e o sentimento de pertencimento. Artigo apresentado no XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Brasília, 2006.

PESSOA, Sônia Caldas; SIQUEIRA, Wanir Campelo. Bazar Maravilha: 20 anos de cultura e entretenimento nas Gerais. Artigo apresentado no V Congresso Nacional de História da Mídia, São Paulo, 2007.

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