sábado, 8 de maio de 2010

Eleições 2.0

Políticos brasileiros já veem a web como local oportuno para o debate eleitoral


Por Caio Araujo e Letícia Silva


A atuação dos políticos nas redes sociais será
decisiva para a vitória nas eleições deste ano

O advento das redes sociais e a campanha eleitoral realizada pelo atual presidente dos Estados Unidos, o democrata Barack Obama, culminaram em uma quase obrigatoriedade de que, nas próximas eleições, os candidatos estejam presentes na internet e, principalmente, nas redes sociais. Isso sem falar dos blogs, fotoblogs e fóruns de debate na web. Todavia, há parte considerável de candidatos acreditando que o simples fato de criar perfis aleatórios em diversos sites de relacionamento é sinônimo de vitória nas urnas. É importante entender que não existe uma estratégia que resulta em vitória sempre que aplicada. No entanto, a falta de estratégia online pode causar um efeito inverso na campanha.

Como o nome bem diz, as redes sociais são ferramentas de relacionamento entre candidato e eleitorado. O ideal é, a partir delas, criar um canal de conversação, e não simplesmente usá-las como publicidade gratuita ao recriar uma forma de “horário político” online, quando o candidato sempre fala e nunca escuta o que seus eleitores têm a dizer. É importante saber que, para alguns eleitores, a liberação da campanha eleitoral na internet e o fato de um candidato estar nessas redes sociais são atitudes invasivas. O estudante Diego Moreira não aprova essa inserção. “Para mim, política e internet são totalmente antagônicos”, explica. O jornalista e escritor Gaudêncio Torquato Rego observa que a principal tarefa de um político é atender às necessidades de seus eleitores, de acordo com seus conceitos político-partidários e os anseios da sociedade (REGO, 1985, p. 13). Assim sendo, o uso das redes deve ser feito para a discussão de programas de governos e resolução de dúvidas da população, não somente como mais uma forma barata de levantar votos.

Boa parte da campanha de Barack Obama foi
paga com dinheiro arrecadado na internet

Ao comparar as eleições presidenciais dos EUA com as do Brasil é importante levar em conta que o sistema eleitoral e a cultura dos dois países são bem distintos. Os americanos têm um sistema bipartidário, não são obrigados a votar, são mais avançados digitalmente e grande parte dos votantes é militante republicano ou democrata. No Brasil, há incontáveis partidos sem força política efetiva e, além do voto ser obrigatório, os casos recorrentes de corrupção tornaram o brasileiro descrente no tocante à política. Muitos perderam a esperança na melhoria do País pelo voto. Além disso, nos Estados Unidos havia doações via internet de verba para os candidatos. Aqui no Brasil, pelo menos por enquanto, é impossível pensar em uma mobilização dessa grandeza. Apesar de a legislação ter sido modificada e permitir as doações, é difícil acreditar que um eleitor não militante financie qualquer quantia para auxiliar a campanha, por mais que aquele acredite nas propostas do candidato.

A “compulsão” pela inserção nas redes sociais levou os comitês de muitos candidatos a criarem diversos perfis em locais até então desconhecidos e, muitas vezes, sem ter interesse em mantê-los. Os candidatos à presidência, por exemplo, já fizeram seus perfis e começaram a utilizá-los. Porém, alguns optam por manter a mesma linguagem utilizada para as outras mídias, o que nem sempre funciona. A internet funciona de forma diferente. É mais dinâmica e sem formalidades. A linguagem deve ser mais objetiva, menos técnica. O que não deve ser confundido com a criação de novos signos linguísticos, como o vulgarmente chamado internetês. O jornalista e especialista em marketing político, Marcelo Sander, observa que o planejamento é fundamental para o sucesso desse tipo de ação. “O que se percebe é que não há, de um modo geral, um planejamento estratégico, uma comunicação integrada dos políticos na internet. Sobretudo nas mídias sociais”, analisa. O público que se vincula a essas redes não se resume aos jovens. Empresas, órgãos governamentais, ONGs e pessoas das mais diversas faixas etárias estão presentes e atuantes. O professor de marketing, Gabriel Guimarães Henrique, destaca que a internet é uma mídia poderosa. “Aqueles que não acreditam nessa força estão fadados a ser engolidos por elas”, alerta.

Mesmo questionada, a atuação dos presidenciáveis
no Twitter recebe muitos seguidores

Nos debates políticos, os candidatos costumam, ao invés de construir a própria imagem, basear seus discursos na destruição da imagem do adversário. Na web essa tendência deve, erradamente, se agravar, visto que cada um terá seus perfis, blogs e sites para alfinetar a postura dos concorrentes. Por mais que a legislação eleitoral possa interferir, acredita-se que muitos ataques diretos passarão impunes. Sander explica que, na web, a contra-propaganda tende a se espalhar com mais rapidez. “A questão não é a acusação em si, mas como ela é feita e passada adiante”. Um exemplo dado pelo jornalista foram os cartazes espalhados por Belo Horizonte nas eleições de 2008 chamando Marcio Lacerda de mensaleiro, que não surtiram o mesmo efeito do vídeo de Tom Cavalcanti imitando Leonardo Quintão. “Veja que no primeiro exemplo, realmente Lacerda teve algum envolvimento com Marcos Valério - fato. Se ele é culpado ou não, é outra história. Mas o vídeo de Tom Cavalcanti se enquadra em outro contexto, o de deboche, pura e simplesmente. Mas fez o maior sucesso”, completa.

Para muitos, vídeo de deboche ao candidato Leonardo Quintão foi
decisivo nas eleições para a prefeitura de Belo Horizonte em 2008

Por mais senso comum que possa parecer, a transparência será o elemento mais importante de uma campanha eleitoral. Os que souberem agir naturalmente, mostrando seus objetivos como candidato, suas propostas, se preocupando menos com as ações dos demais candidatos e mais em ouvir os anseios do eleitorado, têm grandes chances de transformar seguidores em votos e,em consequente sucesso nas urnas. O maior desafio é, contudo, adaptar os candidatos para a mudança. Em 2010, essa transparência irá além da simplista prestação de contas e depoimentos de pobres emocionados. Os candidatos terão que responder a elogios, críticas e perguntas capciosas com a mesma diplomacia que respondem a indagações gentis de eleitores indecisos nos debates televisionados.

Legislação

A nova legislação deu fôlego para a atuação dos candidatos na internet. Ela permite inclusive que sejam feitas doações em dinheiro para as campanhas. No entanto, essa campanha não pode ser feita à revelia. As penalizações são semelhantes às do mundo offline. O problema é que certamente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não terá tempo de julgar todas as acusações. “Comparando com as legislações eleitorais anteriores, essa é a mais branda, o que abre um tremendo mercado para as agências web e de comunicação em geral”, explica Sander.

A Lei que altera e regulamenta as ações dos candidatos durante a campanha eleitoral é a de nº 12.034/09, que incluiu os artigos 57-A a 57-I na Lei 9.504/97 - lei eleitoral, estabelecendo que as campanhas estão permitidas apenas a partir do dia 5 de julho do ano eleitoral.

As campanhas podem ser feitas:

• No site do candidato, com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço de internet estabelecido no país;

• No site do partido ou da coligação, com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedor de serviço de internet estabelecido no País;

• Por meio de mensagem eletrônica para endereços cadastrados gratuitamente pelo candidato, partido ou coligação;

• Por meio de blogs, redes sociais, sítios de mensagens instantâneas e outros, cujo conteúdo seja gerado ou editado por candidatos, partidos ou coligações ou de iniciativa de qualquer pessoa natural.

As campanhas não podem ser feitas:

• Por meio da veiculação de qualquer tipo de propaganda eleitoral paga;

• Ainda que gratuitamente, a veiculação de propaganda eleitoral na internet, em sites de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos;

• Em sites oficiais ou hospedados por órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Em caso de qualquer irregularidade, o valor das multas varia entre cinco e 30 mil reais. O que a justiça eleitoral almeja é que os candidatos façam campanhas pacíficas, sem troca de ofensas explícitas, e que os eleitores não sintam que sua privacidade foi invadida por essas campanhas. Portanto, pela lei, ninguém receberá emails nem mensagens de texto no celular se não tiver autorizado esse serviço. Henriques avalia que a velocidade e facilidade do acesso às informações deverão ser usadas pelos eleitores para monitorarem os políticos. “A carência de informações como justificativa poderá ser cada vez menos usada”, argumenta.

É previsto também que o candidato atacado pelo seu adversário ou militância terá direito de resposta no mesmo espaço e pelo dobro do período de exposição da ofensa. Para Guimarães, o mais importante será criar uma linha de análise que separe invasão de privacidade de evolução nos relacionamentos. “A mudança de cultura irá ocorrer, não tenho a menor dúvida, porém, a forma e o tempo em que isso acontecerá é o que os órgãos regulamentadores terão que ter a competência de definir”, finaliza.

Um comentário:

  1. Vamos lá:
    -Adequação: entre candidato e eleitorado;
    -Manual: melhoria do País pelo voto;
    -Vírgula entre sujeito e verbo: Sander explica que (-1);
    -Pontuação: e em consequente sucesso nas urnas;
    -Pontuação: lei eleitoral, estabelecendo que as campanhas;
    -Adequação: porém, a forma e o tempo em que isso acontecerá é o que os órgãos regulamentadores terão que ter a competência de definir.

    Muito bom texto. 24/25

    ResponderExcluir