As noites de Belo Horizonte são bem agitadas para aqueles que têm pique e que gostam de uma boa cervejinha. A capital tem a maior relação bares por habitante no Brasil. E claro que, dentro dessa diversidade, não poderia deixar de oferecer espaços cujo “prato principal” é o bom e velho rock and roll.
Algumas casas são, tradicionalmente, consideradas pontos de encontro entre pessoas com gostos em comum. Desde as que matam a saudade dos bons tempos do rock quanto as que não viveram a época, mas que apreciam o som de bandas que entraram para a história. O Fundo do Baú, por exemplo, abriu as portas em 1996 para atender esse tipo de público. A casa localizada na zona sul de Belo Horizonte tem como principais atrações as bandas que, de quinta a sábado, revisitam o melhor do rock dos anos 50 aos 80.
A fisioterapeuta Danielle Anderson, 35, frequenta o Fundo do Baú desde que foi inaugurada. O gosto pelo rock foi influência da mãe que curtia Genesis, Beatles, Elvis Presley e Rolling Stones.
Para Danielle, o espaço para o rock em Belo Horizonte diminuiu porque os empresários optaram em abrir casas com ritmos mais populares. E quando questionada sobre o preço, a fisioterapeuta considera justo o que é cobrado pelos artistas, no entanto, reclama da infra-estrutura e do serviço oferecido por algumas casas noturnas. “Infelizmente, temos que nos sentar em cadeiras duras, o som é ruim, o banheiro é sujo, a porção vem congelada, a cerveja é quente”, disse Danielle.
Com quase vinte anos de carreira, a banda Cia Supertramp é uma das atrações mensais do Fundo do Baú. Originalmente, Supertramp é um grupo inglês que nasceu no final da década de 60. Já a cover, Cia Supertramp, foi formada em 1991. O tecladista Fernando Rennó destaca que, mesmo depois de tanto tempo, as músicas não envelhecem porque têm qualidade. “Existe uma riqueza nestas músicas, uma pesquisa de sonoridade, de instrumentos, enfim, um investimento que não existe nas música que passam, músicas do momento”, justificou Rennó.
Outro espaço especializado em rock bar é o Stonehenge, no Barro Preto. O local está aberto há 10 anos e recebe um público variado tanto em faixa etária quanto em perfil sócio-econômico. As principais atrações da casa são as bandas Seu Madruga, cover de AC DC, Mercedez Band, cover de Janis Joplin e também Concreto e Somba, que têm trabalhos autorais.
Overdoors é outra banda que faz parte do “cardápio” musical do Stonehenge. Integrante do conjunto, o baterista Bruno Aguiar, 28, trabalha exclusivamente com música. Para sobrevier, toca também nas bandas Magma e no The Doors Cover. Para o engenheiro e frequentador do Stonehenge, Hermes Lavorato, 28, o local é sinônimo de rock e disse que quando está no “Stone” se sente em casa.
Rodrigo Souza, 27, um dos sócios do estabelecimento, se mostrou profundo conhecedor do estilo musical mais popular do planeta. Ele destacou aspectos históricos do rock e ressaltou que o ritmo influenciou e influencia o jeito de vestir, o comportamento e a visão política e social das pessoas. Como exemplo da busca pela liberdade de expressão, Rodrigo citou o lendário festival de Woodstock, realizado em 1969, nos Estados Unidos. “Tem uma brincadeira, tanto dos funcionários quanto dos frequentadores que, o Stonehenge, é o buraco de rock and roll mais tradicional de BH. Isso quer dizer que é, realmente, o bar camisa preta”, definiu o empresário.
Além do Fundo do Baú e do Stonehenge, as bandas de Belo Horizonte que têm como repertório o rock antigo, são cativas nos palcos do Pau e Pedra, Jack Rock Bar, Lord Pub, Garage D’ Casa, Hard Rock Café, entre outros. Vale lembrar também que, além dos bares com música ao vivo, existem boates que personalizam seu público de acordo com o estilo que é tocado em cada dia da semana. Como exemplo, temos a Demodée, no bairro Cidade Jardim. Às sextas-feiras é de rock, a pista fica agitadíssima com o DJ Gustavo Matos.
Rock no Brasil
Quando Bill Halley iniciou a contagem progressiva em Rock around the clock, no início dos anos 50, talvez não soubesse a relevância cultural do ritmo que estava nascendo. O rock and roll, filho do blues e do country, teve como berço os Estados Unidos da América. Ali, se popularizou e provocou uma verdadeira revolução nos gostos e no comportamento.
O rock veio ao mundo com uma simplicidade que o tornava facilmente acessível. A harmonia era composta por três acordes tocados, basicamente, por uma guitarra, um baixo e uma bateria. A energia e a melodia das vozes completavam a mistura que tinham, como diferencial, um vigor nunca antes visto.
Os anos se passaram, o rock ganhou o planeta e astros viraram deuses. Elvis Presley foi o primeiro. Depois, foi a vez dos Beatles no início dos anos 60, na Inglaterra. O conjunto da obra do quarteto de Liverpool é considerado um divisor de águas na música pop mundial.
Com o passar do tempo, o rock foi subdividido: progressivo, punk, heavy metal e hard rock são alguns exemplos dessa segmentação e, em alguns casos de sofisticação. O rock é rebelde por natureza. Mas essa rebeldia, muitas vezes, transformou artistas em ídolos excêntricos.
Desprovidos de limites, alguns se martirizaram, encurtando a carreira e a própria vida.
De Chuck Berry a Judas Priest, de Creedence a Iron Maiden, de Little Richard a Guns n’ Roses, passando por The Doors, U2, Bob Dylan, Skid Row e a mais antiga de todas em atividade, os Rolling Stones. O rock trouxe um universo de sons, letras, harmonias, melodias e ritmos que o fizeram sobreviver à crise dos 30, dos 40 e dos 50 anos.
Vários são os estilos musicais que estão no vai-e-vem da onda imposta pelas gravadoras e endossada pelas emissoras comerciais de rádio e TV. Sertanejo, pagode, axé e funk carioca são exemplos de músicas amplamente tocadas na grande mídia e que se tornaram extremamente conhecidas para o grande público, nas mais variadas faixas de idade. Alheio a isso, o rock and roll sobrevive servindo também de inspiração para compositores de “outras praias” e DJs que, há algum tempo, usam a tecnologia para fabricar música.
Em 2009, os roqueiros de Belo Horizonte receberam um presente: a apresentação do guitarrista norte-americano Chuck Berry, no Chevrolet Hall. O artista que já passou dos 80 anos de idade é considerado o pai do rock and roll por ter criado os primeiros riffs de guitarra e clássicos como Johnny B. Goode e Rock and roll music.
Acredite! Os Beatles continuam vivos
Belo Horizonte sempre foi destaque no cenário musical como celeiro de diversas bandas de sucesso que alcançaram grande projeção nacional: Jota Quest, Skank, Sepultura, entre outros.
A capacidade de renovação de todos esses talentos tem que se aliar a criação para se manter vivo no cenário atual do Pop Rock. A tradição também se repete quando o assunto é a imitação da maior e mais importante banda de rock de todos os tempos: os Beatles.
Em Belo Horizonte existem cerca de 10 bandas covers dos Beatles, entretanto, apenas quatro dividem atualmente espaço nos palcos da capital. Elas tocam toda semana em casas noturnas momentaneamente transformadas em points de beatlemaníacos.
Glass Union, Sgt Pappers, Hocus Pocus e Anthology, arrastam fãs de todas as idades para relembrar os grandes sucessos da banda de Liverpool. Mas é a Hocus Pocus, a banda mais tradicional no quesito couver dos Beatles. Antes mesmo dos couvers existirem no Brasil, o grupo já faziam apresentações imitando o quarteto. Convictos de que o grupo inglês foi e é a melhor banda de rock mundial, tanto no quesito musical quanto comercial, os integrantes do Hocus Pocus ensaiam cerca de seis horas semanais para se apresentarem no Jack Rock Bar e no Scott bar.
Segundo Beto Arreguy, vocalista e baterista da banda Hocus Pocus, a alegria em tocar Beatles funciona até hoje porque a cada apresentação, o trabalho se alia à diversão e à paixão.
Os covers do quarteto de Liverpool não se cansam de ouvir o repertório de seus ídolos. Sempre que ouve os CDs, Beto Arreguy procura detalhes para aprimorar cada vez mais o som. “O produto Beatles é muito rico. Sempre há o que corrigir. O público é muito exigente, participa ativamente da comunidade virtual da banda e pede sempre coisas diferenciadas. Eles são o que podemos chamar de lado B dos Beatles”, afirma Beto.
Todos os anos, em Liverpool, é realizado um festival que homenageia os covers dos Beatles. Em 2000, duas bandas de Beagá, Sgt Peppers e Hocus Pocus, foram destaques no concurso. “Fiquei muito feliz de representar Belo Horizonte no cenário mundial, isso fez com que a banda crescesse profissionalmente”, relata Arreguy.
By Niarta Oliveira, Patrícia Belo e Thaís Fernanda Oliveira