Comportamento - À FLOR DA PELE

À FLOR DA PELE
Componente da vida moderna o estresse está cada dia mais presente, muitas vezes é um aliado na superação de desafios mas cronicamente pode causar danos importantes para a saúde física e mental.

Leandro Mól

Estresse é, segundo o dicionário, uma reação do organismo a influências nocivas de ordem física, psíquica, infecciosa, capazes de perturbar o equilíbrio interno. Atualmente esse é um significado cada vez mais próximo da sociedade. Nos maiores centros urbanos esse problema se agrava. A busca constante pelo modelo padrão de vida e pelo sucesso torna as pessoas cobradoras de si mesmas; a corrida contra o tempo, o exagero, a falta de afazeres e a escassez de um tempo para lazer, causam estresse. Além disso, fatores externos como o trânsito, com seus grandes fluxos de automóveis e enormes congestionamentos; o barulho das construções, buzinas de carros; a fumaça de fábricas, automóveis e outros poluentes domésticos, provocam uma série de reações no organismo que geram o estresse.
O estresse pode ser dividido em dois tipos básicos: o estresse crônico e o agudo. O crônico é aquele que afeta a maioria das pessoas, sendo constante no dia-a-dia mas de uma forma mais suave. O agudo é mais intenso e curto, sendo causado normalmente por situações traumáticas passageiras.
Eliane é uma das pessoas que reclamam deste problema. Ela tem 69 anos e é voluntária em um hospital. De acordo com Eliane, o que causa estresse é maior do que o que tira o estresse. “Aí a gente pensa em ir a um teatro, mas chega lá e tem que enfrentar aquela fila enorme. É melhor nem ir”, comenta.
De acordo com o psicólogo Paulo Leonardo Soares Junior, um indivíduo "estressado" possui alterações em vários dos processos de sua estrutura psicológica. Como ele está em constante alerta, com nível de tensão elevado, isto reflete fisicamente: a pessoa fica mais cansada, sem energia. Todas as alterações psíquicas, físicas e hormonais costumam levar a quadros depressivos ou de ansiedade, distúrbios do sono e de relacionamento interpessoais; o indivíduo fica hipersensível ou hiper-reativo emocionalmente, irritadiço ou até irado; tem dificuldade de concentração, confusão mental, entre outros. “Todos estes sintomas podem oscilar e variar no mesmo indivíduo, e são como uma bola de neve, se não detidos, tendem a aumentar”, explica o psicólogo.
A estudante de pré-vestibular Ana Paula Sena, de 17 anos, conta que tem muitos problemas com estresse. Segundo ela, os piores agravadores são o colégio e a pressão familiar. Com um pouco de timidez ela mostra as cicatrizes nas duas mãos e conta que se furava de tanto estresse. Para acabar com o problema, Ana Paula procura ficar distraída ouvindo suas músicas favoritas, saindo com os amigos ou, como ela diz “ficar meio alienada”, mas a aproximação do Enem e da prova do vestibular de arquitetura não colaboram.
O estresse pode desencadear uma série de doenças psicológicas ou fisiológicas, principalmente se nenhuma providência for tomada para modificar o estado de tensão. As manifestações, de acordo com o psicólogo Paulo Leonardo, podem ocorrer em forma de sintomas ou até doenças, sendo algumas delas: redução da defesa imunológica, aumento da sudorese, mãos e pés frios, gastrite, hipertensão, herpes, dor muscular, taquicardia, aperto da mandíbula, ranger de dentes, hiperatividade, náuseas, alterações visuais, e, em casos mais graves, de predisposição genética ou de doenças pré-ocorridas, úlceras, enfarte e câncer.
Operadora de caixa em uma lanchonete da Savassi, Elaine, tem 29 anos e conta que o estresse causou problemas no seu sistema digestivo. O nível de tensão era tão grande que a única solução seria tomar remédios. “Resolvi que era melhor então eu mudar minha cabeça”, conta. Ela afirma que resolveu não se preocupar tanto, ficar mais tranqüila, começou a ler mais e escutar música. “Agora não tenho mais muito estresse. Olha até o que veio”, diz ela sorrindo e apontando para a barriga de gravidez.
Atividades alternativas ajudam a aliviar o estresse do mundo moderno. Muitas pessoas encontram na música, no cinema ou na literatura uma alternativa para distrair, relaxar e aliviar o estresse do cotidiano. A yoga utiliza técnicas de relaxamento, meditação, respiração para estimular o equilíbrio, para uma vida mais saudável. Segundo Alcione Ramos, professora de yoga, o objetivo final desta é atingir um estado completo de paz com o corpo e com a mente, ajudando no relaxamento e na diminuição do estresse e da ansiedade. “A yoga e seus movimentos precisos e equilibrados pode tirar o indivíduo dos problemas do dia-a-dia e aumentar sua concentração nas coisas que realmente precisam de sua energia e concentração”, afirma.

Atividades físicas que trabalham a musculatura e o gasto de energia podem se tornar uma opção para aliviar o estresse. Mara Ferreira faz exercícios físicos e afirma que eles a ajudam a manter uma maior concentração e disposição para as atividades do seu dia-a-dia. De acordo com uma professora de educação física que prefere não ser identificada, a atividade física proporciona benefícios ao organismo, pois melhora as funções cardiovasculares e respiratórias, além de dar um melhor condicionamento físico. “Ela induz a produção de substancias como a endorfina, que possui caráter relaxante”, explica.

ESTRESSE
SAIBA SE CUIDAR !

Falou o especialista - Por Paulo Leonardo Soares Junior (Psicólogo)

"O tratamento contra o estresse, assim como os demais tratamentos psicológicos, deve levar em conta sempre a pessoa, portanto deve ser sempre aquele que melhor se adequar a você em particular. Isto não significa que se possa tratar de estresse sozinho. Não hesite em buscar ajuda! Um profissional poderá auxiliar a identificar qual o estágio de estresse, geralmente convencionados em quatro (de maneira rudimentar - do leve ao severo). Cada estágio exige uma intervenção específica ou conciliada, portanto, não dispense a ajuda de um psicólogo, médico ou profissional da saúde habilitado para auxiliá-lo a decidir qual o melhor tratamento.
Em geral se indica acompanhamento psicoterapêutico, onde buscamos descobrir as válvulas de escape e modos individuais de alívio da tensão e ao mesmo tempo devemos fortificar os mecanismos de defesa da pessoa. Em casos mais severos é necessário conciliar com tratamento medicamentoso. A prevenção sem dúvida é o melhor tratamento. Uma vida saudável é aquela onde o tempo é bem dividido, onde se contempla o profissional, o lazer, a família, os amigos, atividades prazerosas. Alguma rotina é necessária, mas sempre com espaços para a criatividade, os improvisos, onde se possa fugir as regras de vez em quando. Se teve um dia corrido, o chefe não te deixou em paz, vá para casa, tome um bom banho morno para "descarregar" e se distraia com outra coisa; vá namorar, ligar para um amigo(a) para "jogar papo fora", ver um filme ou o programa de TV preferido, ler um livro, não importa, trabalho só amanhã. Se permita pequenos deslizes cotidianos, ficar sem fazer nada, não atender ou desligar o celular, pequenas fofoquinhas desde que isso te faça rir, tomar um cafezinho ou ler um e-mail particular no meio do expediente, comer uma barra de chocolate ou um pote de sorvete, dar de ombros quando alguém te chamar a atenção. De vez em quando nada disso faz mal, mas lembre-se tudo em excesso é prejudicial. Viaje uma vez por ano, procure sempre conhecer gente nova e aprender coisas novas. Tudo isso oxigena o cérebro. Experimente fechar os olhos, encher o perito de ar e soltar devagar. Se você treinar, vai conseguir sentir alívio ou, quem sabe, a liberdade do alto de uma montanha no meio da multidão? é só escolher parar pór cinco minutinhos."