segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ascensão dos shoppings populares

Projeto da Prefeitura tira camelôs das ruas da região central

Por Aline Campolina, Amanda Rafaela, Jack Sabino e Marcos de Castro

Desde agosto de 2003 os camelôs foram retirados das ruas de Belo Horizonte e transferidos para os denominados “shoppings populares”, nos grandes centros públicos da capital. Resultado de uma parceria entre o poder público e a iniciativa privada, o shopping Oiapoque foi o primeiro a receber os trabalhadores informais, cadastrados de 1998 a novembro de 2002. Outros mais de 2.000 camelôs e toreros da região centro-sul da capital foram gradativamente remanejados para espaços específicos, como o Tupinambás, Xavantes, Caetés, Tocantins e Barro Preto. Todos – com exceção do Caetés que parte é administrado pela Prefeitura –, são de responsabilidade da iniciativa privada.

Atualmente, além do shopping Oiapoque (popularmente chamado de “Oi”), outros três se encontram em funcionamento, o Caetés, Tupinambás e Xavantes. Na região de Venda Nova, outros shoppings populares também foram criados com a mesma iniciativa da Prefeitura, como o Shopping Norte, O Ponto e o Shopping Céu Azul (os dois últimos são pontos de também ex-camelôs que vendiam seus produtos nas ruas da região). Segundo a PBH, outros cinco centros de compras estão sendo construídos, no bairro Candelária, no Céu Azul, no Mantiqueira e outros dois na rua Padre Pedro Pinto, no centro comercial de Venda Nova.

Um mês após o acordo com os camelôs que integraram o shopping Oiapoque, implantou-se o Código de Posturas do Município, que proíbe o comércio dos vendedores ambulantes nas ruas. O Código, segundo a cartilha e Lei nº 8.616 de 14 de julho de 2003, “é um conjunto de normas que regulam as posturas, visando promover a harmonia e o equilíbrio do espaço urbano, por meio de disciplinamento dos comportamentos, das condutas e dos procedimentos dos cidadãos de Belo Horizonte, regulando as operações de construção, conservação e manutenção e o uso do logradouro público, as operações de construção, conservação e manutenção e o uso da propriedade pública ou particular, quando tais operações e uso afetarem o interesse público”. Integrante do projeto Centro Vivo da PBH, os shoppings populares surgiram de um objetivo de abrigar os trabalhadores informais para despoluir visualmente a cidade. O projeto e conjunto de obras sociais que foi criado em 2004 visa, segundo o site da Prefeitura, a recuperação de toda a área central da capital, e também “outras iniciativas que irão beneficiar a região”. Uma fiscalização diária é feita para evitar que os vendedores retornem para as ruas.

Os shoppings populares ou camelódromos de belo Horizonte contam com o apoio de, além da Prefeitura, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH). Estes locais são como os shoppings comuns que conhecemos, possuem além das lojas, banheiros e restaurantes; e são pontos de venda que a PBH deseja legalizar e transformá-los de setores informais em formais. Hoje, o volume de pessoas que passam pelos shoppings populares é grande, e eles beneficiam o comércio no entorno em que estão instalados. Muitos comerciantes perceberam o aumento no volume de pessoas, principalmente nos fins de semana e datas comemorativas.


A capital possui ainda, desde dezembro de 2008, outro shopping na região da rodoviária. O Uai Shopping, segundo seus investidores – o grupo europeu DOIMO –, recebeu um investimento de R$ 27 milhões, e é composto por 150 lojas com características de preços voltados para a classe C. Segundo Elias Tergilene, diretor de operações do shopping, em entrevista para o site, o Uai tem um diferencial dos demais camelódromos. "Estamos abrindo um novo nicho de mercado. Somos shopping popular por termos lojas que praticam preços mais acessíveis, e, ao mesmo tempo, mantemos todas as características de um shopping convencional com arquitetura moderna e agradável, mix planejado, legalidade, segurança, conforto e higiene", explica o diretor.

A situação destes trabalhadores antes da instalação nos shoppings populares era de total desconforto e insegurança. O local de trabalho era nas calçadas, lugar que disputavam com os pedestres. Os camelôs expunham seus produtos em barracas simples de metal e madeira, que eram montadas e desmontadas diariamente. Elas tinham também esta característica para facilitar a fuga da fiscalização, que sempre retinha as mercadorias muitas vezes em situação ilegal. Nas ruas, os vendedores ambulantes não tinham como se proteger da chuva, do sol excessivo, poeira ou sujeira. Muitos produtos eram perdidos ou estragavam o que prejudicava as vendas. Os shoppings populares abrigam estes vendedores, e facilita a fiscalização dos órgãos competentes, já que agora as bancas possuem alvará e legitimidade, devidamente cadastradas junto à instância municipal. A credibilidade dos produtos junto a sociedade também melhorou, já que com o espaço delimitado e regras impostas pela Prefeitura reduziu-se,em grande parte destes shoppings, o número de vendedores em situação irregular.



Shopping Oiapoque


O remanejamento dos vendedores ambulantes, que trabalhavam nas ruas da cidade para um estabelecimento único, deu origem ao Shopping Oiapoque, um centro comercial popular localizado na rua de mesmo nome (Oiapoque), na cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. Também conhecido como Shopping Oi ou somente Oi.
É um dos maiores shoppings populares da capital mineira, sendo considerado como o mais movimentado, com maior quantidade de pessoas em movimento dentro de um shopping. De acordo pesquisas realizadas, mais de 30 mil pessoas circulam o local nos dias de maior movimento.

Atualmente, ele é o mais famoso dos shoppings populares, e rapidamente se tornou referência ao se procurar qualquer tipo de produto, como roupas, calçados, acessórios, CD e DVD, cigarros e produtos eletro-eletrônicos, a um preço mais baixo se comparado aos shoppings não populares. Geordano Fonseca, 31 anos, mais conhecido como “peixe”, trabalha a três anos no Oiapoque com venda de celular. Para ele, o centro comercial é uma soma de qualidade e preço baixo. “Aqui o cliente sempre sai satisfeito. Ele acha tudo o que precisa com preço mínimo”, completa. De acordo com Fernanda Izabel, cliente assídua do Oiapoque, é impossível sair de mãos vazias do shopping, já que o preço é bastante atrativo.

Rapidamente o Oiapoque se consolidou como o novo local de compras das camadas populares. “O ”Oi” atrai ricos e pobres, todo mundo quer preço bom e variedades”, comenta Fonseca.

Recentemente o shopping passou por reformas para ampliar o número de lojas e espaço de circulação e para reduzir o custo de energia. As ações foram realizadas de acordo com um projeto luminotécnico e a economia está atingindo 53% da conta de energia elétrica.

O projeto trocou os equipamentos de iluminação dos corredores, lojas e áreas comuns do shopping. Ao todo foram substituídas 1600 lâmpadas, sendo que 500 estão localizadas nos corredores e nas demais nas lojas. Outro ponto relevante do projeto foi a ventilação. Os 125 ventiladores fixos “Furacões” de 200 Watts, utilizados nas lojas, foram substituídos por outros de 40 Watts com a mesma performance e melhor sensação de ventilação.

Hoje o shopping possui 900 lojas, entre elas lanchonetes. Há maior espaço de circulação, que permite maior comodidade e conforto para os visitantes e clientes


Comércio informal de Belo Horizonte se organiza e ganha projeção internacional

A informalidade no comércio, apesar do nome, é uma categoria analisada formalmente em estudos e pesquisas socioeconômicas das grandes cidades. Essa vertente do mercado traz no nome a palavra informal, que muitas vezes soa com tom depreciativo. Entretanto, em Belo Horizonte, essa realidade está em processo de transformação.

Dentro de um espaço único voltado para o comércio, os camelôs foram conquistando espaço na opinião dos consumidores. O gerente comercial de uma loja de celulares do Oiapoque, Luís Felipe Aquino, fala sobre os benefícios trazidos pela decisão de formalizar os negócios. “A partir do momento que emitimos a nota fiscal para o cliente passamos a tê-lo mais perto da gente. Isso faz com que os clientes voltem sempre, o balcão está sempre cheio. Temos um retorno muito bom” afirma. Entretanto, não são todos lojistas dos shoppings populares que se conscientizaram da importância de comercializar produtos legalizados. A Polícia Militar apreendeu no último dia 04/05, cinco caminhões com CDs e DVDs pirateados, diversos aparelhos eletrônicos de procedência duvidosa, estimulantes sexuais e medicamentos abortivos vendidos de forma irregular no shopping Xavantes, outro centro comercial popular, na Rua Curitiba.

Para minimizar problemas como este e oferecer aos proprietários a oportunidade de se tornarem empreendedores do comércio popular, o lojista Aroldo José dos Santos teve uma idéia. Em maio de 2005 ele uniu vários lojistas do shopping Oiapoque e de outros shoppings populares com o objetivo de comprar produtos legalizados com preço competitivo e vendê-los com nota fiscal. A partir dessa iniciativa surgiu a Cooperativa Comum de Compras dos Empreendedores de Shoppings Populares (COOESP). Grande parte dos consumidores não valoriza a nota fiscal e sim a garantia do produto comprado. A garantia dos shoppings populares para um produto que apresente defeito em até 30 dias é feita de imediato. É importante ressaltar que a nota fiscal é o documento que garante os direitos do consumidor e a credibilidade do comerciante. Aroldo, presidente da Cooperativa, conta que a região onde os shoppings estão localizados era desvalorizada pelos comerciantes. Com a criação dos centros de comércio popular “vários magazines foram para a nossa região e ficamos cercados por eles, que se beneficiam pela presença de nossa numerosa clientela”, lembra. O trabalho da cooperativa foi necessário para tentar frear este avanço gigantesco em cima de um comércio popular frágil. Vários fabricantes no mercado interno evitam fornecer produtos para shoppings populares, explica Aroldo. A alternativa encontrada pela COOESP foi procurar o mercado asiático e negociar para realizar compras em maior quantidade e obter melhores preços que posteriormente serão repassados aos empreendedores dos shoppings que fazem parte da cooperativa.

Os benefícios oferecidos pela COOESP ao lojista que opta por legalizar a situação do seu negócio são vários e importantes. “Oferecemos informações, palestras e cursos profissionalizantes realizados por universidades. Uma parceria com o Banco do Brasil trouxe recursos financeiros para formalizar os empreendedores e capital de giro para que estes se mantivessem no mercado” ressalta o presidente da cooperativa.
Através de projetos como este Belo Horizonte está ganhando destaque no que diz respeito ao desenvolvimento social da população. Nos dias 19 a 22 de abril a capital mineira recebeu a Assembléia Geral da rede internacional WIEGO - Women in Informal Employment –Globalizing and Organizing (Mulheres no Trabalho Informal – Globalizando e Organizando).

A organização trabalha em prol da melhoria da situação de trabalhadores informais, principalmente as mulheres. Representantes da WIEGO e participantes da conferência visitaram os corredores do Oiapoque para conhecer os produtos e serviços oferecidos. O objetivo é entender o funcionamento do centro comercial e levar esse modelo como referencia para outros países.

Um shopping no coração da cidade

Com 19 anos de existência, o Shopping Cidade é considerado um dos maiores shoppings da capital mineira. O fato de estar localizado no hipercentro de Belo Horizonte - que concentra 11,64% da população - faz com que ele receba, diariamente, uma média de 75 mil visitantes. A grande maioria é de estudantes, pessoas que moram ou trabalham ao redor do centro da cidade ou que utilizam o mall para se locomoverem de uma rua à outra através de suas portarias: Rua Rio de Janeiro, São Paulo e Tupis.
Segundo a Assessoria de Comunicação do Shopping Cidade, o perfil de consumidor predominante é o da classe B, que lidera com 50%, com distribuição equilibrada entre o público masculino e feminino. Para a dona de casa, Silvia Nunes, a facilidade de chegar ao shopping para fazer compras, é o que importa. “Gosto muito de ir ao Shopping Cidade porque, além de me sentir mais segura em relação às ruas do centro, é muito fácil e rápido chegar até ele”, comenta.
O centro de compras possui mais de 150 operações, entre lojas e quiosques - que englobam quase todos os segmentos do comércio, além da loja Supermercados Carrefour Bairro – salas de cinema, praças de alimentação, escadas rolantes, elevadores e estacionamento. “Lá eu encontro tudo que eu quero. É uma verdadeira cidade dentro de um shopping”, explica a dona de casa.

Em 2009 o mall iniciou um projeto de expansão com encerramento previsto para o primeiro trimestre de 2011. As obras fazem parte do projeto de revitalização do centro de Belo Horizonte e contam com um investimento de R$25 milhões. Ainda segundo a Assessoria, o foco maior é modernizar o empreendimento estética e estruturalmente; aumentar o impacto visual do centro de compras no local em que se encontra; e criar mais diferenciais competitivos para os atuais e futuros lojistas. “É um orgulho para o Shopping Cidade trilhar o caminho certo, alinhado com a revitalização do hipercentro da capital, que traz vantagens e benefícios para todos os envolvidos, incluindo clientes, parceiros e moradores da região central”, ressalta.

Um comentário:

  1. São 8 da manhã. Depois dos afazeres matinais, vim à toda para ver o blog. Sensacional. Que beleza. Daqui a pouco começamos o copy.

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