domingo, 9 de maio de 2010

"Comida di Buteco"



CULTURA: A DESCULPA PERFEITA PARA BEBER

“Comida di Buteco” atrai milhares de pessoas e é considerado um dos eventos culturais mais importantes de BH


Por Lorena Lage e Thiago Barros


Em cada coração bate um buteco. Mas em cada buteco batem vários corações. Esse é o slogan de um dos eventos mais esperados pelos mineiros. O “Comida di Buteco” chega à sua 11º edição com 41 bares participantes e todos com o mesmo ingrediente essencial: o jiló. Idealizado em 1999, pelo ex-produtor e apresentador da extinta Rádio Geraes FM, Eduardo Maya, o evento saiu do papel um ano depois de sua criação, com apenas 10 botecos participantes.

A cada ano o concurso vem ganhando credibilidade e conquistando não somente os mineiros, como também todo país. O festival acontece a nível nacional em 11 cidades de cinco Estados: Minas Gerais, São Paulo, Goiânia, Rio de Janeiro e Salvador. E o sucesso é geral! Só em Belo Horizonte, segundo a instituição responsável pela apuração dos votos, Vox Populi, estima-se um público participante de 800 mil pessoas por edição, com mais 164 mil votos nos pratos concorrentes.

Uma das tradições do evento é a festa “A Saideira”, que marca o encerramento e a premiação do concurso, e se tornou um dos acontecimentos mais esperados da cidade, recebendo aproximadamente 22 mil botequeiros nos dias em que é realizada. Esse ano ela irá acontecer nos dias 15 e 16 de maio, com atrações de Mart´nália, Zeca Baleiro e Roberta Sá, em apresentação no Centro Esportivo Universitário (CEU), na Pampulha. O “Comida di Buteco” acontece anualmente entre os meses de abril e maio.

Esse concurso gastronômico está mexendo cada vez mais com a capital mineira. Com essa “disputa” sadia entre os competidores todos saem ganhando. Os clientes têm a oportunidade de experimentar pratos variados, muitas vezes exóticos e sofisticados, além da cerveja bem gelada. Os bares estão sempre cheios, aumentando a clientela e os lucros. Para o técnico em informática, Roberto Lima, 31 anos, esse evento engrandece o turismo em Belo Horizonte e cria oportunidades do público conhecer vários ambientes diferentes: “Participo de todas as edições e já tenho meus bares preferidos. Faço questão de levar os amigos e comemorar essa festa que já é tradição aqui em Minas”, destacou.

Como a disputa por um lugar nos botecos é enorme, criou-se uma maratona para participar do evento. Os grupos se organizam, alugam ônibus e reservam lugares em todos bares participantes. Desta forma, as pessoas conseguem visitar em um só dia todos os botecos e ficam aproximadamente uma hora em cada um. Um desses grupos, chamado “Rota Derrete”, fez seu tour no sábado do dia 1º de maio. “Pra mim foi mais interessante. Geralmente não consigo entrar nos bares, que ficam sempre lotados e dessa vez fui a todos e me divertir bastante”, afirmou o estudante e freqüentador do evento, Lucas Pereira. Além do conforto, essas maratonas ainda oferecem bebida liberada dentro dos ônibus que transportam os participantes. O passaporte para esse passeio gira em torno de 50 reais.

O evento se resulta na premiação dos melhores botecos que atendem com louvor aos quatro critérios desenvolvidos pelos organizadores: melhor tira-gosto; melhor atendimento; melhor higiene do local; e melhor temperatura da cerveja. O ganhador é premiado com troféu e reconhecido como melhor bar da cidade. Segundo o proprietário do “Peixe Frito Bar e Petisqueira”, localizado no bairro Santo Agostinho, Roberto Schons, o melhor prêmio é o retorno que o evento dá para o estabelecimento: “Não ganhamos nenhum valor em dinheiro, apenas o prato premiado, mas o aumento de clientes e o reconhecimento que temos diante deles é nossa maior vitória, independente se ganhamos ou não”, afirmou.

Para participar da votação, o cliente precisa pedir o tira-gosto concorrente, preencher uma cédula e depositá-la em uma urna nos próprios bares que estão competindo. Somente pode votar uma vez em cada boteco e, para ser validado, todas as perguntas devem estar preenchidas, sem rasuras ou emendas. Segundo o site oficial do evento, a avaliação é qualitativa e não quantitativa, portanto não depende do número de pessoas que votaram, mas sim da média aritmética dos votos válidos recebidos.

O evento teve início no dia 09 de abril e encerrou hoje, dia 09 de maio, e seu resultado é divulgado na festa “A Saideira”. Na ocasião, os vencedores recebem na hora, os troféus. Para participar do concurso, os estabelecimentos não precisam pagar nada, é grátis. Basta ser indicados pelos clientes através do site www.comidadibuteco.com.br.


Já que Minas não tem mar, vamos para o bar

Em 2009, foi sancionado pelo prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, a lei que oficializa a cidade mineira como a capital mundial dos bares. O projeto de lei tem autoria do vereador Alberto Rodrigues (PV) que estabelece também, o Dia Municipal dos botecos, comemorado todo ano no terceiro sábado do mês de maio. Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurante de Minas Gerais (Abrasel-MG), neste ano haverá uma comemoração diferenciada para celebrar esse novo título da cidade.

A Capital Mundial dos Bares possui milhares de botecos espalhados pelo centro da cidade, bairros e lugares totalmente imagináveis, como o “Freud Bar”. O estabelecimento tem um estilo diferente dos bares centrais. O cliente que for ao local, receberá uma garrafa com uma vela e um cobertor, devido a sua localização, a 2km de Belo Horizonte, sentido Nova Lima. Além dos adereços que ficam disponíveis por conseqüência do frio, outra coisa que chama atenção é a distribuição das mesas e cadeiras: para tomar uma cerveja gelada ou saborear os tira-gostos é preciso subir em uma árvore. Isso mesmo! As mesas são montadas em árvores.

Foto: http://www.freudbar.com


Botecar virou verbo em Belo Horizonte, e nada mais é do que a arte de sair, seja de casa ou do trabalho para tomar aquela cerveja gelada, degustar dos petiscos ou paquerar. Para os mineiros não tem divertimento melhor que botecar na companhia dos amigos. Para o estudante de gastronomia, Peterson Ferreira, o evento veio para agregar ainda mais a vontade de sair para conhecer lugares novos: “Na sexta-feira fico contando a hora de sair do serviço e encontrar a galera, e ainda aprendo mais sobre gastronomia, pois os pratos estão cada vez mais elaborados”, relata.

Os freqüentadores assíduos dos bairros da capital afirmam que para botecar não existe dia certo. “Todo dia é dia. Uma ‘geladinha’ sempre é bem-vinda”, afirma a estudante de jornalismo, Gabriela Rosa. Para Roberto Schons, o título de Capital Mundial dos Botecos é bom. “Temos que saber explorar essa marca para deixar os botecos sempre cheios”, conclui.


Jiló: o prato principal


Conhecida internacionalmente por seu sabor inconfundível, a culinária mineira é sempre um prato cheio em qualquer restaurante que queira oferecer o que Minas Gerais tem de melhor. Talvez, seja por que em cada parte do Estado há uma comida típica, com ingredientes especiais. Seus pratos e temperos são sempre um atrativo a mais, não só dentro da cozinha da avó, mas também em vários concursos culinários espalhados pelo país.

Um dos ingredientes típicos da culinária mineira é o jiló. Com seu sabor pouco comum, amargo, ele é adorado ou odiado. E já faz parte da cozinha de Minas, afinal quem nunca foi ao Mercado Central comer o famoso bife de fígado acebolado com jiló na chapa? Para a estudante de direito, Natalia Vieira, não há nada melhor que os tira-gostos servidos no local: “bife sem cebola e jiló não é bife, ainda mais se for degustado no mercado”, afirma.

Ao contrário do que muitos pensam, o jiló não é um legume. Alguns dizem que é um fruto, outros uma erva, mas o que importa mesmo é a sua contribuição que agrega valor aos pratos. Esse ano o evento “Comida di buteco” colocou como regra para os participantes a inclusão do jiló em seus cardápios. Como resultado, o que podemos observar é uma grande variedade e criatividade nos pratos servidos.

Dentre as novidades apresentadas no concurso, temos o Chã de jiló fatiado com purê de moranga, servido no Bar do Zezé; Já no tradicional Café Palhares, o prato elaborado para o evento é a Língua ao molho com purê de ervilha e bacon, acompanha fatias de pão francês e pão de jiló. O Filé de pintado à dorê ao molho de manga e gengibre acompanhado de chips de jiló, é servido no Peixe Frito Bar e Petisqueira.

Foto: www.comidadibuteco.com.br

"Chã Jiló e Dona Moranga" - Bar do Zezé


Foto: www.comidadibuteco.com.br

"Prosa de Minas" - Café Palhares


Foto: www.comidadibuteco.com.br

"Doce Sabor Ardente" - Peixe Frito


Segundo Roberto Schons, esse ano a expectativa é grande. Ele concorreu outros anos mas ainda não ganhou. Com a novidade do prato, que está fazendo sucesso, ele espera conseguir o primeiro lugar no concurso dessa vez: “As pessoas estão elogiando muito, acho que agora acertamos a mão”, conclui.


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