segunda-feira, 10 de maio de 2010

Betim Shopping às moscas

Consumidores são obrigados a enfrentar calor e cheiro de gordura; lojistas desistem de investir e fecham os estabelecimentos

por Julia Ruiz

Quem acessa o site do Betim Shopping, mas nunca esteve no local, não imagina que o centro de compras tenha uma infraestrutura tão precária. O conteúdo disponível na web mostra que o investimento se limitou à internet. Ou seja, do mundo virtual para o real, a discrepância é enorme.
Do estacionamento, que, além de descoberto, teve parte desviada para outro espaço em função da instalação de uma faculdade no local, aos espaços vazios nos corredores, o shopping está cada vez mais aquém de suprir uma cidade de cerca de 450 mil habitantes. A reportagem esteve no local e registrou o estado em que se encontra o único shopping de Betim.
Cheiro de gordura impregnado nas roupas, banheiros depredados e bebedouros sem água são reclamações frequentes dos usuários. O superintendente do shopping, Rodrigo Campelo, garante que adequações estão sendo realizadas. "Estamos investindo em melhorias. Instalamos, por exemplo, um novo circuito de ar-condicionado em outubro de 2009. Também estamos fazendo mudanças no estacionamento, pois ele não supria o número de veículos, que cresceu expressivamente na última década. Também trocaremos, em breve, as portas dos banheiros e as lixeiras dos corredores. Todas as mudanças já serão visíveis em junho".

Decepção
A decepção foi o motivo pelo qual o comerciante Everando Silva decidiu fechas as portas de seu estabelecimento no centro de compras. "Quando abri o restaurante, logo depois da inauguração do shopping, a promessa era de trazer investimentos e recursos para o local. No início, as coisas até funcionaram bem. Mas, de repente, quiseram preencher os espaços destinados às lojas e começaram a propor aos meus funcionários que abrissem estabelecimentos em condições facilitadas. Tive baixa de dois ótimos funcionários e, por fim, quando começaram a sondar minha cozinheira, fiquei muito irritado e decidi que não valia mais a pena manter o empreendimento diante de tantas dores de cabeça", conta.
Silva comenta ainda que "a administração passou a visar unicamente ao lucro. Ninguém procurava mais saber se os lojistas estavam satisfeitos, não investiam em melhorias, não consultavam os clientes. Fora a entidão nas negociações com as grandes redes. Me lembro que tiveram a oportunidade de trazer as Casas Bahia, mas o acordo demorou tanto a ser efetivado que a rede optou por se instalar no centro da cidade", recorda Everando.
O empresário Edmar Nogueira, proprietário de uma loja de artigos para o lar, manteve uma de suas lojas no local durante três anos. Ele ressalta que houve um erro estratégico. "Acredito que o local não deslanchou em função de um erro estratégico de localização. Se o centro de compras ocupasse, por exemplo, o lugar onde funciona o centro de distribuição das Casas Bahia, na BR 381, sem dúvida atenderia a mais pessoas e colheria melhores resultados. É claro que também houve muita negligência por parte da administração com relação a outros pontos, mas este sem dúvida foi o crucial", opina Nogueira.
"Hoje, do jeito que as coisas estão, investir no shopping já não compensa nem para o lojista nem para o empreendedor", completa o empresário.
Os clientes que precisam frequentar o local reclamam. “Não tenho condições de ir a outros centros de compra fora da cidade, então acabo me tornando refém daqui. Toda vez que vou ao Betim Shopping é a mesma coisa: sou mal atendido, tudo é extremamente demorado e, além disso, saio de lá com um cheiro de gordura terrível. As lojas também estão fechando, então acabamos ficando sem muitas opções. É preciso tomar providências para melhorar essa situação. Betim merece um shopping melhor", desabafa o técnico em informática Wesley Amauri de Souza.
Para o estudante Gabriel Martins, o centro de compras não acompanha o desenvolvimento da cidade. "A higiene está muito precária e o calor dentro do shopping está absurdo. Dá até vergonha de trazer alguém de fora. Quando vou ao cinema no sábado à noite, por exemplo, saio com um cheiro fortíssimo de gordura. Se compararmos este shopping com os de Contagem ou de Belo Horizonte, percebemos o quanto o ambiente interno destes é muito melhor", opina.
O enfermeiro Vandeir de Oliveira acrescenta que o Betim Shopping não possui profissionais qualificados para atender os clientes. “O shopping deveria melhorar em vários aspectos, mas principalmente o atendimento, que é péssimo. Aqui o tempo de espera é muito acima do tolerável e, quando finalmente chega a nossa vez, nos deparamos com funcionários mal educados e despreparados. Os banheiros estão sempre sujos e o estacionamento não atende à demanda dos veículos. A segurança também deve ser mais qualificada, porque, por exemplo, acabei de ver um vigia discutindo com um cliente. Não temos opção, então pagamos o pato, mas o shopping está longe de ser razoável", argumenta.


Ampliação seria feita no 1º ano
No ano de 1999, quando o Betim Shopping comemorava um ano de funcionamento, a então administração do centro de compras divulgou que o local seria ampliado. Na época, foi anunciado que o shopping expandiria mais mil metros quadrados, além de receber duas novas lojas-âncora: as Casas Bahia e a rede de lojas feminina Marisa.
O superintendente do Betim Shopping, Rodrigo Campelo, diz que enfrenta hoje um problema cultural. "As pessoas estão acostumadas com o ambiente industrial, então têm dificuldade de aceitar bem o varejo. Por isso, estamos trabalhando para conhecer melhor as demandas da cidade para oferecer melhorias".
Campelo acrescenta que a atual administração do shopping está preparando o local para receber grandes marcas. “Nossa meta é oferecer todas as opções que o consumidor teria em qualquer grande centro. Não vamos mais ficar para trás", garantiu.

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